Fiquei pensando em como escrever sobre a minha primeira viagem internacional sozinha. Achei inicialmente que bastava ir relatando tudo como normalmente leio por aí. Mas percebi que a minha experiência não foi igual a das pessoas que eu leio e acompanho, pois são uma realidade totalmente diferente da minha. E entendo que, provavelmente, a minha terá sido diferente de muitas outras. Mas eu não queria criar uma falsa realidade de que basta querer pra gente conseguir realizar.

Pra começar, demorei mais de 5 anos pra viajar para a Europa novamente e foi uma luta tentar organizar tudo da melhor maneira que eu poderia. Ainda assim eu sei muito bem que tenho privilégios. Mas vamos quebrar alguns mitos:

1) Eu não estava com “dinheiro sobrando”. Essa nunca foi uma realidade por aqui.
2) Apesar de não ter gastado com hospedagem: viajar é muito caro!
3) Sim, tive alguns imprevistos.

Alguns motivos fizeram essa viagem sair de qualquer jeito. O primeiro deles, e o mais importante, era conhecer meu sobrinho de quase dois anos e rever parte da minha família que mora em Empoli, na Itália. Além do fato das coisas terem caminhado para uma viagem solo para dois países, sem precisar pagar hospedagem, que me pareceu ser uma das grandes oportunidades da minha vida. Então, mesmo em meio ao caos e a insegurança resolvi que iria. Emocionalmente e culturalmente foi o maior presente que eu já me dei na vida.

Inicialmente éramos 3 pessoas viajando para a Itália. Eu, o Edson (marido) e minha mãe. Os dois não puderam manter seus planos e eu diante de tudo que citei acima resolvi continuar. No meio da organização, uma amiga querida que se mudou para a Holanda , a Nanda, vivia me perguntando quando eu iria visita-lá. Foi quando tive a ideia de aceitar o convite e juntar os dois países. Eu tinha um valor fixo para uma viagem segura, ideal e tranquila e um valor que era a minha realidade. Então, todas as minhas escolhas foram baseadas nesse valor real que foi o que consegui juntar.

Depois de resolver quase tudo relacionado a passagem e a grana eu comecei a sonhar com a viagem e a fazer um roteiro das coisas que gostaria de ver, fazer, provar, comprar. Foram 15 dias no total e divido com vocês a minha experiência abaixo. <3

Amsterdam

Dia 1: Amsterdam era um sonho antigo. Já fiquei 12 horas por lá ,em uma viagem anterior, e sempre disse que queria voltar com mais tempo. E no meu primeiro dia na cidade, a Nanda e o marido me levaram para uma rua bem pertinho da casa deles. Ao sair já fui impactada pelos famosos canais.

Cada canal mais lindo que o outro. Fotos: Nanda Nunes

Vi lojinhas fofas e baratas como a Action que eu amei (vende de tudo, mas que confesso com a consciência um pouco pesada por ainda estar no meu processo de comprar menos e me preocupando como/onde são produzidas as coisas que compro. Papo para alguns outros posts).

À noite fomos a um restaurante chamado The Meets (lindo lindo lindo) e em seguida em um bar onde a galera bebe muita cerveja. rs

Dia 2: No domingo a gente foi bater perna. Rolou a minha primeira vez na Primark, que fica bem pertinho da Centraal Station. Eu nem preciso dizer que pirei. Maquiagem, roupas, sapatos, decoração, acessórios, tudo por aquele preço que você nem sabe pra onde olhar (meu conflito seguiu gritando).

Finalmente comi a tão falada batata frita do Mannekenpis. Escolhi comer a tradicional com maionese e posso afirmar que foi uma das coisas mais gostosas que provei (ressalto que amo batata frita). Não existe unanimidade sobre qual é a melhor batata frita de Amsterdam, então minha dica é se jogar naquela que você for com a “cara”.

A Praça Dam fica pertinho. Ali temos o Palácio Real, o De Bijenkorf, uma  lojas de departamento,  o Shopping Magna Plaza e também o Museu de Cera Madame Tussauds . Voltei várias vezes nessa praça e até registrei um pedido de casamento. <3

Terminamos o dia em uma loja de decoração, a Kwantun. Eu fiquei bem chocada com os valores dos móveis por lá. Achei os preços maravilhosos sempre quando comparados com os praticados aqui no Brasil.

Na Praça Dam

Dia 3: Na segunda fomos a um mercado de pulgas (acontece toda segunda) que fica no bairro chamado Jordaan. Passeamos e em seguida paramos pra tomar um café no Pelican Rouge Amsterdam pra espantar o frio. 


Pelican Rouge Amsterdam

Logo depois eu conheci a Mayara, e a gente almoçou no D&A Hummus Bistro. Eu amei tanto que ele ficou na minha lista de coisas mais gostosas que comi durante a viagem.  Destaque para a cozinha aberta e para a decoração do lugar que é bem linda.  Eu notei que tirando alguns clássicos como: batata frita, torta de maçã, frikandel, e stroopwafle, a gastronomia de outros países bomba por lá.

D&A Hummus Bistro

Esse dia foi especial, pois logo depois fui provar a melhor torta de maçã de Amsterdam, no Winkel 43. Gente, é divina! Mesmo e sem exagero! Uma curiosidade: esbarrei com a Lilian Pacce por lá. Mas eu morro de vergonha e só fiquei olhando mesmo. rs

Torta de maçã mais maravilhosa

Depois a gente andou sem pressa olhando os canais, conversando e tirando muitas fotos. Passamos na frente da porta do Museu da Anne Frank, local onde ela, a família e outras pessoas se escondiam 🙁 . Muita gente confunde, mas a Nanda me explicou que a casa onde ela morava fica em outro lugar. Eu já havia decidido que não queria visitar por conta dessa história triste e trágica.

No meio do caminho está um lugar escondido, quase secreto, o Begijnhof. Como tudo na Holanda, o nome é uma sopa de letrinhas. Esse local tem um jardim lindo e muita coisa curiosa por trás. Muita gente passa reto, pois não imagina que atrás de um portão possa existir algo interessante e ainda por cima gratuito. Destaco algumas curiosidades:

  • Foi fundado na idade média e fica quase um metro abaixo do nível do restante de toda Amsterdam
  • Era o local de mulheres que se dedicavam a caridade
  • Mantenha silêncio quando estiver por lá para não incomodar suas moradoras
  • Tem uma igreja linda e super antiga no local

Passeamos também pelas 9 Straatjes e eu pude visitar lojas como a Free People, por exemplo. O local é conhecido por lojas famosas e locais, além de lanchonetes e cafés. Só a arquitetura do lugar já vale muito o passeio!

Na 9 Straatjes

Esse dia a gente conseguiu fazer muita coisa e curiosa que sou, claro que queira passar pela Red Light District, ou Bairro da luz Vermelha. Todo mundo que já leu algo sobre o país com certeza ouviu falar no local por conta das prostitutas que ficam nas vitrines.

Lá a profissão mais antiga do mundo é legalizada e por elas ficarem naturalmente em um vidro para quem quiser usas seus serviços, gera curiosidade de todos e, claro, inclusive a minha.

Fomos no começo da noite, portanto, haviam poucas moças por lá. Achei as que vi lindas e a experiência de ficar olhando pra elas bem inusitada. Ah, vale ficar atento no local, pois os casos de furto são altos. Acho que todo mundo já sabe, mas não custa lembrar: não pode filmar ou tirar fotos das meninas em seu local de trabalho!

Com a Nanda <3

Dia 4: Meu quarto dia foi de desafio pessoal. Eu sou a pessoa que se perde no centro da cidade do lugar onde mora 37 anos. Então, quando a Nanda me disse que ia me ensinar a chegar na Museumplein ou na Praça dos Museus como também é conhecida, eu fiquei com um pouco de medo. O lugar é um dos principais pontos turísticos da cidade. Ficam lá os principais museus. O local também era famoso por abrigar o letreiro I Amsterdam, que não fica mais lá e que eu acho que foi removido da cidade, pois infelizmente não achei nada de onde ele poderia estar atualmente. 

Desafio feito. Desafio aceito! Da casa da Nanda dava pra ir andando. E logo no caminho eu com meu inglês impecável (contém ironia) resolvi puxar papo com uma menina na rua. E foi uma da melhores coisas que fiz. Descobri que estava no caminho certo, entendi quase tudo do nosso papo e ainda soube um pouco mais sobre ela que veio da Bélgica, mora na cidade alguns anos e trabalha no Booking.com.

Museumplein

Finalmente cheguei na praça e fiquei sem ar. Era como se eu tivesse entrado num livro de história. Minha dica de ouro é vá mesmo se você não for visitar de fato algum museu. Nem que seja pra dar um volta no gramado e passar na porta de cada um. 

Eu escolhi comprar o ingresso apenas para o Van Gogh e fiquei fascinada. Ver as obras e saber um pouco mais de um dos maiores artistas da humanidade foi bem foda. Foi uma visita que mexeu muito comigo.

Dica importante: compre esse ou outros ingressos para os museus com antecedência para não correr o risco deles esgotarem. Eu comprei pelo site dois dias antes e deu certo, mas se puder antecipar, melhor. Use um sapato confortável, pois andar vai ser seu maior desafio.

Bem pertinho dali encontramos o Vondelpark. Um parque bem conhecido e lindo. Eu fiquei apaixonada e andei até minhas pernas aguentarem e até a fome bater. Amei ver os lagos, as estátuas, as pessoas sentadas no gramado ou andando de bicicleta, os bancos com nomes de famílias e casais… Acho que foi um dos lugares mais especiais no sentido de sentir a atmosfera do país. Quero voltar com certeza e entrou pra lista de programas favoritos na cidade. 

Dica: eu fui depois de visitar a Praça dos Museus e acho essa a melhor opção, mas eu levaria na bolsa uma bebida e um lanche para sentar no gramado do parque e não precisar ir embora quando a fome apertou como eu fiz.

Vista do Museu

A hora de voltar para “casa”  foi o momento mais tenso de toda a viagem, pois eu me perdi kkkk.  Isso mesmo, fiz o caminho errado e não achava a casa da Nanda durante horas. Em um momento me deu desespero e vontade de chorar. Mas eu coloquei na cabeça que ia sair daquela situação sem precisar ligar pra ela me resgatar e muito menos sair gritando. Demorou bastante, mas depois de inúmeros pedidos de ajuda para as pessoas na rua eu finalmente consegui. Se isso não foi uma experiência completa, eu nem sei o que seria então. Me senti muito orgulhosa e com coragem pra encarar tanta coisa.

Descansar pra andar mais

Dia 5: Depois que você se perde e se acha, parece que o medo desaparece. E meu quinto dia na cidade começou novamente andando sozinha. Saindo de casa fui para a Centraal Station caminhando e olhando tudo que eu podia. A Centraal acabou sendo meu principal ponto de referência em Amsterdam. No caminho até passei na frente do restaurante Moeders , que eu já havia ouvido falar por ser famoso pelas fotos que os clientes deixam por lá com suas mães e pela gastronomia local.  

Meu objetivo era ir ver o mural gigante da Anne Frank feito pelo brasileiro Kobra. Chegando na Centraal foi bem fácil encontrar o ponto exato de onde sai a balsa (gratuita) que atravessa o rio. Basta prestar atenção e pegar a que fica na esquerda, com destino a NDSM-Werf.  Esperei um pouco pra pegar, mas para atravessar foi super rápido. 

Pelo que entendi NDSM-Werf  foi um estaleiro e agora virou meio que um local hispter da Holanda com várias empresas, alguns containers e é também onde acontece a famosa feira IJ Halle que eu falo mais adiante pois voltei lá só por causa dela. Nesse dia eu vi o mural do Kobra, dei uma volta, mas não tinha nada pra fazer além de caminhar e admirar outros grafites.

Porta do restaurante Moeders
Mural feito pelo brasileiro Kobra

Em seguida a Nanda me encontrou e me levou para comer o que ela considera o melhor Stroowafels da cidade, na Albert Cuyp Market. A tradicional feira, que acontece desde de 1904, tem diversos achados. Eu diria que me senti uma local durante a visita. Queijos, flores, roupas, souvenirs… E foi na barraquinha do Goudse Stroopwafels que eu pude comer mais uma maravilha dessa viagem. Realmente esse Stroowafels com caramelo é divino. Dica: compra uma garrafinha de água pois assim que terminar de comer vai desejar beber.

Stroowafels <3

Dia 6:  O sexto dia foi mágico e um dos melhores. Fui sozinha conhecer Zaanse Schans. Pra chegar, novamente tinha que ir para a Centraal Station e procurar o terminal de ônibus que te deixa na porta do lugar. Eu parecia nem acreditar no que via. Finalmente conheci os moinhos da Holanda. São lindos, parece que a gente tá num cenário de filme.

Pra completar e ficar ainda mais perfeito, durante o passeio é possível provar diversos queijos holandeses. Deliciosos! Visitei cada cantinho que não precisa pagar pra entrar (são muitos), os que precisavam de ingresso eu não fiz questão, mas acho que deve ser bacana também. 

Uma coisa que me chamou atenção foi a visita numa antiga fábrica de chocolates e o aroma que espalhava por todo o lugar. 

Zaanse Schans foi super importante para a Revolução Industrial, mais um lugar repleto de história e que conta com hotel, restaurante, fábrica dos famosos tamancos holandeses, animais pastando e diversas outras atrações. Mais um com aquela marcação de lugares que me deixaram emocionada e que vale muito visitar!


Os Moinhos

Dia 7: Acordamos cedo e o roteiro do dia era conhecer Haarlem, uma cidade bem charmosa e conhecida pela produção de cervejas. Demos uma volta e fomos até o Museu Corrie Ten Boom. Corrie é uma sobrevivente dos campos de concentração nazistas. E pode preparar o lenço pois sua história é de muita coragem! Resumidamente o museu é casa onde ela e sua família ajudaram a salvar judeus durante a segunda guerra. Dá pra ver o local onde ela os escondia e é de arrepiar. A entrada é gratuita, mas precisa fazer reserva, pois existe um número limitado de pessoas.

Durante a visita é possível ouvir como ela foi descoberta, sem entregar quem ajudava, e levada aos campos de concentração. Somente ela sobreviveu, seu pai e irmã infelizmente não resistiram a essa parte sombria da nossa história. Dá pra conhecer mais da sua saga em livros e até filmes. Foi sem dúvidas uma heroína e sua trajetória deve ser lembrada pra sempre para que jamais possamos permitir tamanha crueldade com outros seres humanos.

O dia estava lindo, mas eu jamais poderia imaginar o que ainda nos esperava. Fui conhecer a praia dos holandeses, Bloemendaal aan Zee. Sou muito sortuda por ter conseguido dias de muito sol, mas esse em especial foi um dia espetacular.

Esse dia, essa luz, essa praia!

Caminhamos muito pela praia, conversando e tirando fotos e no final paramos no San Blas, misto de bar e restaurante, e fomos presenteadas com o por do sol mais lindo da minha vida! Quem diria que eu iria parar em uma praia na Europa, sem roupas de banho, e ia amar tanto assim!  Dica: se tiver tempo e um dia bonito faça esse passeio totalmente fora do contexto “turistão”.

No San Blas

Dia 8: Deu pra aproveitar MUITO Amsterdam. Meu desejo é voltar outras vezes e um sonho é ir na Primavera pra ver as Tulipas. Eu sabia que ia ser especial e que ia amar, mas sabe quando tudo é ainda melhor? No meu último dia acordei cedo e ainda fui conhecer o maior mercado de pulgas da Europa (dizem até que do mundo), o IJ-Hallen. Fica no mesmo local que citei acima, onde fica o mural da Anne Frank feito pelo Kobra.  O evento tem data marcada para acontecer e vale seguir no instagram ou entrar no site oficial.  Eu acompanho e nem acreditei quando vi que a data ia bater com a minha viagem. Na verdade eu fiquei um dia a mais na Holanda só pra conseguir conhecer. Foi a melhor decisão!

Imagina um lugar ENORME cheio de coisas pra garimpar. De decoração até itens de colecionador. Roupas, sapatos, bolsas, acessórios, tudo que você imaginar. Eu tinha a sensação de que não ia conseguir ver tudo. Precisa ir com calma e com aquele faro especial para olhar cada coisa interessante.  A entrada custa 5 euros.

Dicas: coloque uma roupa que seja fácil de colocar outras por cima na hora de provar (alguns não tem espelho), leve sua ecobag e negocie com os vendedores. Sem exageros: para quem ama brechó e achados esse lugar precisa entrar na sua lista!

Foram dias incríveis e inesquecíveis, daqueles que a gente quer lembrar pra vida toda. Foi uma marco pessoal. No próximo post conto sobre minha chegada na Itália.

Mercado de pulgas IJ Hallen
Como não amar esse lugar?

Dicas Extras: 

Se a grana tiver curta faça refeições no Mc Donald’s. Não é a melhor opção, mas dá pra fazer um lanche completo por 6 euros.

Outro lugar é o supermercado Albert Heijn. Nem preciso morar lá pra ver que é um império (hahah). Você respira e dá de cara um a cada esquina. Eu achei barato, tem gente que mora lá e odeia. Vou dar um exemplo: comprei um sanduba e um suco natural de laranja para lanchar Albert Heijn to go, da Centraal Station, e paguei menos que o lanche do Mc. Custou cerca de 4 euros.

Se você gosta de lojas Fast fashion vale colocar na lista: Primark, H&M, Topshop, Bershka e Hema. Outras que também visitei foram: Urban Outfitters e Sostrene Grene.

Eu não curto e não provei maconha por lá, nem aquelas que eles colocam no tal bolinho rs. Mas notei que, apesar de ser proibido fumar fora dos coffeeshops, a galera anda fumando pelas ruas. Minha dica é: fume somente nos lugares que são permitidos!

Uma decisão boa foi comprar o Travel Ticket: transporte ilimitado em tram, ônibus e metrô dentro de Amsterdã. Comprei assim que sai do aeroporto, num guichê de informação turística.

Os preços: 1 dia: 17 euros/ 2 dias: 22,50 euros/3 dias: 28 euros (vale pesquisar antes de decidir o que vai melhor atender suas necessidades).

Eu não fiz plano especial para usar internet durante a viagem. Logo eu a viciada. E pra completar meu desespero o sinal do Wifi na casa da Nanda não funcionava no meu celular de forma alguma. Até agora não sabemos o motivo. Mas na rua o meu celular pegava sinal aberto em quase todos os lugares, até no ônibus. Vale a dica pra quem não tiver pacote de internet international.

Cuidado para não ser atropelado por uma bicicleta. Sim, eles andam muito rápido e saem de todos os lugares!

Agora aperta o play pra viajar comigo pelos Países Baixos.

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