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abril 12, 2017

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Aquela era a hora do dia que fazia ela ter vontade de entrar em si mesma e transbordar tudo que era excesso. Ou falta.

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Naquela roda de amigos, entre risadas e goles de cerveja, se desligou do assunto posto à mesa e contemplou o sol que alaranjava o céu e se escondia atrás da montanha. A beleza inexplicável, quase insolente, de mais um fim.

Uma vontade intensa de se isolar machucava seu peito e queimava seus olhos, mas ela sorria naquela roda de amigos. Porque é assim que tem que ser.

Sorrateira, retira-se, dizendo apenas para a amiga mais próxima, quase num sussurro, vou tirar uma foto e já volto.

 No breve caminho do quiosque até o píer onde procura o melhor ângulo para guardar aquela paisagem e aquele sentimento, a solidão escapa furtiva num pequeno sorriso ao ver crianças correndo da areia para o mar.

A pintura, o sonho, o desejo e a tristeza. Tudo num pequeno sorriso que, dentro dela, se afoga.

Tudo bem chorar. Aprendera, há pouco tempo, a não lutar contra suas tempestades.

Com o celular nas mãos, por um minuto, se esquece da foto. Sente os últimos raios do sol em seu corpo. O calor, que ainda há pouco lhe arrancava gotículas de suor, agora vai embora.

Como as paixões em sua vida. Tão quentes no início, tão frias no final.

Sempre um final.

Distantes mesmo de qualquer centelha de começo.

A umidade das lágrimas refresca seu rosto quando uma brisa vem lhe avisar que ainda existe um amanhã. E outro.

E outro.

Sim, existe. Sorri. Diferente dessa vez.

Faz a foto, guarda o sentimento.

De volta à mesa, seus amigos falam de política. Ela ainda olha o céu, agora com tons de rosa e azul escuro. As luzes da cidade se acendem.

Dentro da noite dela, também.

ju

Juliana Borel é escritora e poeta. Pra ganhar dinheiro e pagar as contas é jornalista a maior parte da semana. Pra se inspirar gosta de ouvir Guns, trilhas sonoras e esbarrar por aí em pessoas interessantes. Em 2016, ganhou o prêmio literário Leia Comigo, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, e é uma das autoras no livro de contos “Mapas Literários – O Rio em Histórias” (Rovelle/2015) e do livreto de poesias “Miudezas” (Cartonera Carioca/2016).
Tem um blog procurasepoesia.blogspot.com.br, onde escorre todas as suas experiências.

 

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