Você acordou de mau-humor. Mais uma vez. Te dei bom dia e você sequer respondeu. Fico aqui, na cozinha enquanto preparo nosso café da manhã, pensando se tem a ver com o que me contou sobre o trabalho algumas semanas antes. Ou se é outra coisa. Você tem estado arredio ultimamente. Sinto dificuldade para encontrar o caminho que me levava tão fácil ao seu coração.

Sinto falta de nós dois. Daquelas conversas despretensiosas embaixo dos lençóis, nunca concluídas, pois sempre terminávamos fazendo amor. Aliás, tem duas semanas que não nos tocamos além de um beijo de bom dia e outro de boa noite. Por quê?

Engraçado como a convivência roubou algumas coisas nossas. Antes, eu lia seus olhos com a destreza de um cego lendo em braile. Agora, não sei mais o que eles dizem. Eles dizem alguma coisa?

Tenho medo que esteja me traindo ou, pior, que não me ame mais. Não quero parecer uma neurótica, então tenho dormido com as perguntas na garganta e com as dúvidas embaralhando a cabeça.

Te entrego a xícara de café e me aninho ao seu lado no sofá. Demora dois segundos, mas você me olha e sorri. Acho que percebe minha preocupação, porque acaricia meu cabelo e diz desculpa, eu sei que não tenho sido boa companhia.

Tenho medo de concordar e te magoar. Então, balanço a cabeça e digo eu sei que não tem sido fácil no trabalho.

Você diz é, não tem sido fácil no trabalho, mas não tem nada a ver com a gente.

Sugiro que a gente converse sobre isso. Você me encoraja e digo o que tem me incomodado. Quero ouvir de você o que o está deixando assim.

Entendo agora o que minha mãe sempre dizia: os filmes terminam onde a vida começa. Dificilmente ilustram o dia depois do beijo da última cena, quando o casal descobre que para se manter junto é preciso, além de amor, dedicação, paciência e generosidade.

Você parece mais leve depois da nossa conversa. Seu humor melhorou e seu sorriso me convida a voltar pra cama com você e selar nossa paz. Fico feliz, agora que afastei a ideia de que estamos no fim.

Entrelaçada nas tuas pernas e no teu corpo, percebo que o amor é mais do que um sentimento, é um constante trabalhar por nós dois.

Podemos não ter resolvido todos os nossos problemas hoje, mas, sem dúvida, nos amamos um pouco mais agora.

disc

ju1.jpgJuliana Borel é aspirante a escritora e poeta. Pra ganhar dinheiro e pagar as contas é jornalista a maior parte da semana. Pra se inspirar gosta de ouvir Guns, trilhas sonoras e esbarrar por aí em pessoas interessantes. Seu blog procurasepoesia.blogspot.com.br é praticamente seu DNA.

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    Suas palavras são sempre tão transparentes, Ju, que me transporto facilmente para o ambiente dos seus contos!!! #sousuafã

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