O poeta Paul Géraldy teve a delicadeza de dizer que “a gente começa a amar por simples curiosidade. Por ter lido num olhar, certa possibilidade”.

Eu não saberia explicar quando a paixão vira amor. Seria como tentar descrever a cor vermelha a um cego. Nem o que faz uma pessoa se apaixonar pela outra. Seria como tentar entender porque uns gostam de rock e outros de música clássica.

Mas uma hora, o amor acontece pra todos. E então, é possível entender porque tem coisas que não se pode explicar.

O conto de hoje é sobre aquele amor que você passa uma vida esperando e aparece quando você menos espera.

Um dia, pra sempre
Pra ler ouvindo: Yes and nothing less | Tiago Iorc
Um dia, você vai esbarrar com ela. Vai sorrir do seu jeito mais sedutor e ser pego de assalto por uma faísca flamejante quando ela sorrir de volta.

Tímida, ela vai desviar o olhar, com medo que você consiga ler em seus olhos o descompasso de seu coração.

Um frisson de um segundo.

E então, seu passatempo preferido será encontrar o que te deixa tão fascinado por ela. Tentar desvendar no brilho de seu olhar, aquele que traiçoeiramente te laçou. Entender por que mesmo quando ela te irrita terrivelmente, você continua querendo vê-la. Por que o futebol de quarta já não é mais tão interessante ou por que estar deitado ao lado dela, só deitado mesmo, é tão melhor do que era com todas as outras.

E por mais que tente, você nunca vai descobrir em qual curva do sorriso dela você se distraiu e se deixou apaixonar.

Um dia, você vai dizer que a ama. Vai fazer juras que nunca imaginou. Vai fazer planos.

Quando se der conta, estará de mãos dadas com ela, caminhando em uma via pública do Rio de Janeiro, vendo nas luzes da cidade milhares de possibilidades. Encontrando na lentidão do trânsito carioca, a oportunidade perfeita de estar com ela por mais alguns minutos.

E, sem resistência, se abrirá. Deixará escorrer segredos entre as conversas, compartilhará sonhos íntimos, se sentirá à vontade para declarar suas vulnerabilidades e medos. Porque o medo maior, aquele de sofrer, de ter seu coração partido, já não existe mais.

Um dia, você flagrará a si mesmo perguntando-se se deve convidá-la para morar com você. Se não é um passo muito grande, se está mesmo preparado. E vai perceber que sim, está. Que se existe alguém com quem você estaria disposto a seguir adiante, não poderia ser com outra além dela.

E vai se ver planejando a maneira ideal de fazer o convite e, pior, nervoso por não saber a resposta.

Um dia, vocês estarão sentados em um banco de madeira, perdidos em algum jardim. Você vai olhar para ela, enquanto ela contempla um pássaro ou uma folha numa árvore, e vai sorrir.

Feliz.

Não por tê-la escolhido, mas por ter sido a escolha dela.

Um dia, o “pra sempre” não vai lhe parecer tolo nem impossível. Porque você terá entendido que a eternidade é todo dia.

Cada dia ao lado dela.

Um dia, quem sabe?, eu esbarre em alguém também.

 

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ju.jpgJuliana Borel é aspirante a escritora e poeta. Pra ganhar dinheiro e pagar as contas é jornalista a maior parte da semana. Pra se inspirar gosta de ouvir Guns, trilhas sonoras e esbarrar por aí em pessoas interessantes. Seu blog procurasepoesia.blogspot.com.br é praticamente seu DNA.

 

2 Comments

  1. Avatar
    Gabriela Cesarino Reply

    Ah meu Deus! Isso foi tão bonito que tive que parar no meio da leitura pra controlar meus suspiros.

  2. Avatar
    Gabriela Cesarino Reply

    Ah meu Deus! Isso foi tão bonito que tive que parar a leitura pra controlar meus suspiros.

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