Às vezes, eu sei, a espera parece interminável. E você, cansado de dormir e acordar sozinho, se pergunta: quando será minha vez?

Esse ano, um garoto muito especial me disse: é quando a gente para de procurar pelas borboletas que elas pousam suavemente em nossos ombros.

Não esperar é essencial para que finalmente aconteça.

Assim, pego emprestadas as palavras de Clarice: “Não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios.”

Esteja distraído. Deixe que as borboletas encontrem o caminho do seu estômago.

Não tenha dúvida, elas encontrarão.

O conto de hoje não é um conto, é uma carta. Espero que gostem.

Querido,

Essa carta nasceu antes de você aparecer.

Nasceu dos sonhos de uma menina romântica, com mãos de poeta e alma de escritora. Nasceu da espera interminável e da resignação de que esse dia jamais chegaria.

Essa carta nasceu das decepções. Dolorosas, cortantes, profundas. Nasceu da tristeza de um não após o outro. Do momento sempre errado, da hora sempre equivocada, de um coração partido em pedaços.

Nasceu antes de eu acreditar que alguém como você apareceria. Do aperto na garganta que sufocava toda esperança. Da solidão que parecia infinita.

Essa carta é para você que me deu uma chance. Que viu em mim o amor que eu poderia dar e o aceitou. É pra você que quis me dar o mesmo amor. Que me escolheu entre tantas opções e acreditou em nós.

Que acreditou em mim. Logo em mim! Que em muitas conversas com amigos e amigas pacientes repetiu incansavelmente que jamais seria amada ou amaria. Que tinha certeza absoluta de que a felicidade de ser correspondido no amor era sorte alheia.

Essa carta é pra dizer que eu, que ainda nem te conheço, sei que posso te amar com todo meu coração. Que posso me doar da maneira mais pura e leal. Que quero ouvir seus planos, dividir os meus e criar novos em conjunto.

É pra dizer que só eu sei como me sinto agora. Diante não de uma possibilidade, mas de uma realidade. Diante do sim, finalmente. Sonhando e vivendo ou vivendo e sonhando… Tanto faz.

Essa carta nasceu quando parei de esperar, enfim. Quando cansei de ilusões e de histórias inventadas. Quando percebi que olhar a sorte dos outros era deixar de ver a minha própria.

E foi aí que você surgiu.

Essa carta, que nasceu uma vida antes de você aparecer, é um desejo. Um desejo de que nós dois sejamos realmente felizes juntos. E que a eternidade seja vivida um dia de cada vez.

Com amor.

ju1.jpgJuliana Borel é aspirante a escritora e poeta. Pra ganhar dinheiro e pagar as contas é jornalista a maior parte da semana. Pra se inspirar gosta de ouvir Guns, trilhas sonoras e esbarrar por aí em pessoas interessantes. Seu blog procurasepoesia.blogspot.com.br é praticamente seu DNA.

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