“Eu só queria que você soubesse que sempre haverá uma parte sua em mim e que sou grato por isso. Torne você o que se tornar, onde quer que esteja no mundo, envio amor a você. Serei seu amigo até o fim.” – Carta de Theodore (Joaquin Phoenix) a Catherine (Rooney Mara), no filme ELA (Spike Jonze).

O conto de hoje é sobre a dor de deixar de querer sem deixar de amar.

Já passou por isso?

Mar

Pra ler ouvindo: Loneliness | Trilha do filme ELA

O sol bateu nos olhos dele e ele sorriu. O barulho do mar lhe dava a tranquilidade de que tanto precisava, embora só agora, ao ouvir as ondas quebrando na areia, notasse isso.

Podia ver o fantasma dela dançando com ele bem ali, sobre a água. Podia escutar sua risada mais uma vez e encarar olhos que diziam, melhor do que qualquer palavra, eu amo você. Riu quando a largou e uma onda traiçoeira a fez cair.

Sentiu um sopro de tristeza quando viu seu próprio fantasma ajudando-a a se levantar com delicadeza e a guardando em um abraço carinhoso, sob a proteção de um beijo no rosto.

Ondas quebrando em seus pés, vento batendo em seus corpos, pôr do sol colorindo seus cabelos.

Podia sentir.

Mesmo tanto tempo depois.

Podia sentir.

Depois de palavras mais duras do que concreto. Mais devastadoras do que qualquer doença.

Podia sentir.

Sentir que ainda a amava, mesmo sem paixão. Que ainda a queria bem, mesmo quando não a queria por perto. Que sentia saudade dela, de uma outra ela. Que sentia saudade dele, de um antigo ele.

Não pôde, e nem o faria se pudesse, evitar uma lágrima sorrateira que lhe escapou e deixou uma marca redonda na areia, molhando um sorriso no meio do caminho. Porque nem a vontade de chorar lhe arrancava a vontade de sorrir ao ver seus corpos diáfanos e inexistentes ainda abraçados sobre o mar.

Porque naquele breve devaneio, a Solidão saía de seu coração e descansava em algum barco atracado ali por perto. Enquanto contemplava o passado dançando à sua frente, a melancolia tornava-se confortável. O desespero sumia quase por completo. E ele experimentava uma sensação há muito esquecida… Felicidade? Plenitude?

Amor?

Agora era quase noite. Seus fantasmas sumiam lentamente, junto com a luz do sol. O céu escurecia, mudando a matiz de sua alma. A Solidão levantava-se calmamente do barco. Caminhava tranquilamente em sua direção.

Mas, naquele minuto, ele ainda sorria.

Ainda chorava.

Ainda sentia.

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ju.jpgJuliana Borel é aspirante a escritora e poeta. Pra ganhar dinheiro e pagar as contas é jornalista a maior parte da semana. Pra se inspirar gosta de ouvir Guns, trilhas sonoras e esbarrar por aí em pessoas interessantes. Seu blog procurasepoesia.blogspot.com.br é praticamente seu DNA.

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